SC vai se superar de novo, por Vinicius Lummertz

Discordo, em boa parte, de uma frase que foi recorrente após o encerramento do julgamento do impeachment do governador Carlos Moisés de que “Santa Catarina foi a grande derrotada” nesse lamentável episódio. Na parte que concordo, reconheço que os prejuízos foram enormes, sim – econômicos, sociais, políticos e, principalmente, para a imagem de um estado diferenciado no país e no mundo. Aos autores dessa trama palaciana e de bastidores, cabe aos eleitores decidir o que fazer quanto a eles.   

Porém, em maior parte não concordo com a tese da derrota porque, antes de tudo, SC é um estado de superação. E também porque os alicerces daquilo tudo que construímos desde nossos antepassados colonizadores estão mais firmes do que nunca: a economia bate recorde sobre recorde, no emprego, na indústria, comércio e agronegócio, na exportação e importação, e até na arrecadação. Infelizmente, o Turismo ainda sofre de forma brutal, mas também vamos superar isso.  

Não nego que considero essa a crise mais grave da nossa história contemporânea, porque junta a maior tragédia sanitária de todos os tempos com o maior colapso de gestão que já vivemos. No entanto, como sou catarinense, nem todo esse cenário obscuro e sombrio me faz temer. Não é hora de falar em derrota. É hora de falar em união e mudança de paradigmas, pois a política catarinense de hoje vai na direção oposta aos valores e tradições, desejos e sonhos do povo catarinense. Na verdade, a política se descolou da cultura do Estado. Algo que aconteceu no Brasil, e que agora acontece aqui em SC. 

Para ilustrar o que digo, vou contar uma história 15 anos atrás, quando percorri o Estado com professor Ignacy Sachs, simplesmente o formulador do conceito de ecodesenvolvimento, que deu origem à expressão ‘desenvolvimento sustentável’, tão em voga nos dias de hoje. Nessa viagem perguntei a ele se entendia que SC tinha traços de ‘excepcionalismo’ que se manteriam no futuro. A resposta dele foi que este seria o maior desafio catarinense para as próximas décadas: manter a diferenciação herdada da sua colonização, por conta das forças que impeliam – e, infelizmente, ainda impelem – o Brasil para uma homogeneização. 

O professor Sachs afirmava, então, que tínhamos diferenciais duradouros para o futuro que seriam fortemente desafiados. De fato, ainda somos diferenciados na vida social e produtiva, mas fomos atingidos pela cultura política do país. A sociedade organizada catarinense está, portanto, sendo colocada à prova – e dizer o que daqueles que comandam e comandarão o Estado? O desafio do professor Sachs foi lançado. 

Portanto, é hora de voltarmos a trilhar ‘o caminho catarinense’, desenhar e redefinir quais são os nossos grandes objetivos. Voltarmos ao eixo. Quanto mais tempo ficarmos parados no box, mais voltas perdemos na corrida, que não é contra ninguém: é a utopia catarinense que não pode se perder. É o sonho catarinense do qual não podemos abrir mão. 

Temos que fazer isso agora. Resistir bravamente e não ceder à decadência do nosso país, que não é e nem será definitiva. E não será definitiva porque nós catarinenses saberemos fazer a nossa parte. Manteremos, hoje e sempre, a integridade das nossas vontades e assim também cumpriremos nossa tarefa perante o nosso amado Brasil.

Vinicius Lummertz, catarinense e secretário de Turismo de São Paulo