Entrevista: Secretário de Saúde

Santa Catarina tem milhares de pessoas contaminadas com a variante Delta do Coronavírus, disse o secretário de Estado da Saúde, André Motta Ribeiro, nesta terça-feira (17). Para ele, o avanço da variante é natural, mas o importante é realizar o protocolo de isolamento do paciente e rastreamento dos contatos, além da conclusão da vacinação. Oficialmente, Santa Catarina tem 25 casos confirmados da Delta. 

“Com certeza temos milhares de pessoas com Delta no Estado de Santa Catarina e é natural da doença. A doença vai mudando para se adaptar ao ambiente. Nós tivemos dezenas de variantes. Agora é a Delta e tem outras variantes surgindo”, disse o secretário. 

Em entrevista à Rede Catarinense de Notícias, Motta Ribeiro falou sobre adiantamento do calendário de vacinação, imunização de adolescentes e o aumento de casos ativos de Covid-19 no Estado.

Rede Catarinense de Notícias – O Estado recebeu mais de 420 mil doses de vacina neste final de semana. A Secretaria já tem as doses necessárias para finalizar o calendário de vacinação da população adulta?

André Motta Ribeiro – Nós temos hoje 7,4 milhões de doses recebidas e nosso cálculo de necessidade até o final de agosto são 7,7 milhões. Em tese, faltam 300 mil doses, que há garantia de entrega pelo Ministério da Saúde. Quantitativo suficiente para encerrar o calendário proposto nós já temos ou teremos em breve. O que eu preciso é do registro dessas doses e que elas sejam aplicadas pelos municípios. A gente tem reforçado a necessidade de mutirão, quer seja na vacinação, quer seja no registro dessas doses. Prioridade número um: registrar tudo o que está sendo aplicado.

RCN – Será possível adiantar o calendário?

Ribeiro – Se nós conseguirmos registrar tudo que temos nos municípios, que são quase 1 milhão de doses não registradas no sistema, é bem possível que se possa antecipar o calendário. Nós vamos discutir a antecipação da vacinação para os adolescentes com comorbidades, que é uma população frágil e a opinião é de que nós deveríamos antecipar esse grupo em pelo menos em 14 dias.

RCN – A Pfizer é a única vacina com autorização para aplicação em adolescentes. A Secretaria já está reservando essas doses para esse público?

Ribeiro – Nós temos a garantia de entregas da Pfizer. Uma vez deliberada a proposta de utilizarmos as doses para os adolescentes, obviamente um percentual será destinado a esse grupo. Nós temos quantitativo prometido pelo governo federal suficiente para atender a essa população.

RCN – Há a expectativa de que novas vacinas sejam aprovadas para os adolescentes?

Ribeiro – Nós tivemos uma evolução tecnológica fantástica neste período. Foram diversas vacinas produzidas com grande grau de eficácia. Eu acredito que sim, teremos novas vacinas aprovadas. Anualmente, vão surgir novidades. Inclusive com doses diminuídas, em vez de duas aplicações, uma. Agora, só o tempo vai dizer.

RCN – Com a finalização da vacinação dos adultos, o senhor teme um percentual abaixo dos 75% ou 85% de cobertura necessária?

Ribeiro – Nós vamos chegar até novembro a algo em torno de 90% da população vacinada. As campanhas estão aí, convidando as pessoas para se vacinarem. Mais do que isso, é se a imprensa reforçar a nossa fala. A única arma contra o Coronavírus no médio e longo prazo é a vacinação. A atual é a manutenção da regra sanitária.

RCN – O governador de São Paulo, João Doria, esteve em Santa Catarina e disse que o governador Carlos Moisés mostrou interesse em comprar vacinas diretamente do Instituto Butantan. É uma boa estratégia?

Ribeiro – Esse é um assunto que merece discussão. Mas até aqui não temos dificuldade de fornecimento de doses por parte do Ministério da Saúde. Eu não estava no encontro e não sei qual foi a oferta. Nos interessa muito doses da Pfizer e da Janssen. São vacinas que se prestam para a terceira dose. E se pudéssemos adquirir Pfizer, sem ferir o PNI, talvez fosse interessante nós utilizarmos a terceira dose para profissionais da saúde. Mas isso demanda discussão técnica.

RCN – O Estado teve uma redução drástica de casos ativos. Eram 21 ou 22 mil e agora são 11 ou 12 mil. Caiu, mas parou de cair. Qual a avaliação?

Ribeiro – Nós paramos de cair e começamos a aumentar um pouco. Nós já tivemos melhores. Houve um acréscimo de 10% nos casos ativos. Em algumas regiões do Estado esse acréscimo é maior. Por isso, hoje temos regiões em nível amarelo e outras no vermelho. É preocupante porque a Delta é uma variante extremamente contagiosa. Ela causa doença naqueles não imunizados ainda. Esse é um momento  que a gente tem que estar muito atento. Parece que a vacina está trazendo carta de alforria para as pessoas. E isso não é verdade. A Delta continua sendo contaminante, mesmo para aqueles imunizados. Nós temos uma cobertura insuficiente e é uma estabilização em um patamar, em tese, mais baixo do que estávamos, mas ainda um patamar alto: 11 a 12 mil casos ativos é um patamar alto. Entre a primeira e a segunda onda, em setembro do ano passado, nós estabilizamos em 4 mil.

RCN – Nós tivemos 25 casos da Delta. Um dos últimos casos é de um homem que faleceu no início de julho e a confirmação veio no início de agosto. Nós temos um tempo de resposta menor com a variante? Isso preocupa? Então temos muito mais casos de Delta do que o registrado?

Ribeiro – Com certeza temos milhares de pessoas com Delta no Estado de Santa Catarina e é natural da doença. A doença vai mudando para se adaptar ao ambiente. Nós tivemos dezenas de variantes. Tivemos sob impacto da B12, da B11, da P1. Agora é a Delta e tem outras variantes surgindo. O importante é que cada vez que se tenha um doente do Coronavírus, a forma de tratar é a mesma: isolando, monitorando, tratando, e rastreando contatos. O fato de a gente ter confirmação 15 dias depois, 10 ou 20 dias, em tese, não deveria impactar. Nós temos uma rastreabilidade grande. Quando se percebe uma carga viral maior ele já é testado para várias variantes. Acontece com a Delta e vai acontecer com as próximas que estão aparecendo.

Foto: Julio Cavalheiro/Secom