Proteja quem te protege, por João Carlos Pawlick

Você se arriscaria a subir um morro dominado por facções criminosas? Toparia enfrentar, armado com pistola, criminosos com armamento de poderio militar? Quantas pessoas você conhece que teme, todos os dias, que sua família seja morta por criminosos por vingança? Conhece alguém que se matou em decorrência da depressão provocada pelo alto grau de estresse? Você viveria por toda a vida sob o risco de levar um tiro? Você morreria por alguém? 

Antes de disparar contra os militares, o que tem sido o esporte preferido de alguns formadores de opinião, é preciso entender a natureza do trabalho dos policiais e bombeiros que atuam na linha de frente.

Não defendo aqui abusos. Todos devem responder por seus atos na justiça.

Contudo, é mais fácil criticar a letalidade da polícia militar do que dimensionar quantas pessoas já foram salvas por um policial e um bombeiro militar em Santa Catarina, que, aliás, é referência nacional em segurança pública e apresenta importantes números de redução da criminalidade.

Sempre é bom lembrar que atrás de cada farda tem uma mãe e um pai de família que, em segundos, precisa decidir entre morrer e matar.

Mas tem gente que prefere tratar a exceção pela regra, classificando nossos policiais como assassinos.

Segundo pesquisas recentes, é no Brasil que mais morrem policiais no mundo.

Um policial perde a vida por dia no país, que está sempre em guerra e precisa de profissionais preparados para proteger a população.

Aqui, em Santa Catarina, só em Joinville, oito policiais militares foram mortos nos últimos anos pelo crime organizado. Tentativa de homicídio contra policiais foram cerca de 20. Fora os atropelamentos.

Além dos desafios diários de enfrentamento da criminalidade e proteção da comunidade, os policiais e bombeiros militares estão há quase sete anos sem reposição inflacionária (não é aumento de salário). Ainda sofrem com a falta de um plano de carreira, com pouco efetivo, duras escalas, falta de diálogo com o governo, inúmeros casos de depressão e suicídio, enfrentam a falta de equipamentos e, agora, encaram o inimigo invisível do coronavírus.

Até hoje mais de 600 policiais e bombeiros militares foram contaminados, pois passaram a acumular mais uma atribuição de fiscalizar quem não cumpre com as restrições impostas por decretos de prefeituras e do Governo do Estado. E o medo maior é infectar os familiares.

Sabemos que são muitos os setores essenciais que estão na luta contra o coronavírus, a exemplo da saúde. E sabemos também que nossa profissão tem um risco e que juramos defender a sociedade.

O que faço é um apelo para que a população valorize o militar assim como valoriza qualquer outro trabalhador honesto. Só que no nosso caso a gente sai de casa, todos os dias, sem saber se irá voltar para a família.

A segurança pública é dever do Estado e responsabilidade de todos. Portanto, você também pode e deve cobrar do governo mais valorização e respeito ao policial e bombeiro militar.

Proteja quem te protege.

João Carlos Pawlick, presidente da Associação de Praças do Estado de Santa Catarina (Aprasc)