Entrevista: Siyabulela Mandela

Pela primeira vez no Brasil, Siyabulela Mandela, bisneto do ex-presidente da África do Sul e vencedor do Prêmio Nobel da Paz Nelson Mandela, esteve no final de maio em Florianópolis para palestrar no Empreende Brazil Conference, também acompanhou algumas iniciativas sociais desenvolvidas na Capital.

Siyabulela Mandela tem 29 anos, é PhD em Filosofia em Relações Internacionais e Resolução de Conflitos pela Universidade Nelson Mandela (África do Sul).

É diretor da ONG ‘Journalists for Human Rights’ (Jornalistas pelos Direitos Humanos) na África do Sul. A ONG também está presente em 29 países, e atua percorre o mundo treinando jornalistas sobre como denunciar violações de direitos humanos, reforçando junto aos profissionais da mídia o importante papel de agente de transformação social.

O Jornal Trindade conversou com o Doutor Mandela. Confira abaixo a entrevista.

JT: Esta é a sua primeira vez no Brasil, como está sendo?

SM: Primeiramente estou aqui para participar do Empreende Brazil Conference, uma das maiores plataformas do empreendedorismo da américa latina. Minha primeira impressão do Brasil, foi perceber como o Brasil e a África do Sul são países muito parecidos. Ambos são líderes de desigualdade social no mundo, é interessante observar esses contrastes e similaridades. É incrível ver trabalhos e trabalhadores sociais tão engajados e unidos para mudar esta realidade das comunidades. Está sendo muito interessante para mim e estou aprendendo muito.

JT: Qual a importância de participar Empreende Brazil Conference?

SM: O Empreende Brazil Conference é um evento destinado a empresários, empreendedores, organizações sociais e experts de diversos lugares, a fim de mobilizar recursos, habilidades e inovações, assim como, compartilhar conhecimentos, para encontrar a melhor forma de gerar comunidades mais sustentáveis e desenvolvidas economicamente. Os clientes de muitos desses empreendedores são as pessoas que vivem nas favelas, é importante trabalhar nos problemas dessas comunidades, contribuindo para o desenvolvimento da educação e programas sociais que mudem a vida dessas pessoas, que possam capacitá-las e permita que se tornem participantes ativas da economia do país. Essa é a importância de uma iniciativa como o Empreende Brazil Conference.

JT: Como você se tornou em um ativista?

SM: O trabalho de ativista faz parte do legado da minha família, em particular do meu bisavô, Nelson Mandela. Ele foi um conceituado ativista dos direitos humanos, da paz e da reconciliação. Para mim, ser ativista faz parte do meu passado. Significa que eu não posso ficar sentado enquanto existe tanta injustiça em partes diferentes do mundo.

JT: Para você, qual a importância do seu bisavô no seu trabalho atualmente?

SM: Para mim, o legado que ele deixou, lutando pelo que ele acreditava, é muito importante. Eu acredito que é de minha responsabilidade continuar o seu legado como defensor dos direitos humanos, da paz e da reconciliação. Todas as pessoas devem ter a oportunidade de apreciar os direitos humanos. É nossa responsabilidade coletiva, como geração, continuar este trabalho e legado. Não podemos deixar que as nossas crianças, daqui a 20 ou 30 anos, pratiquem injustiças e discriminação racial.

JT: Qual a importância da mídia?

SM: A mídia é a base de qualquer democracia, a responsabilidade da mídia é informar nossas comunidades, trabalhar com responsabilidade e verificar os fatos.

JT: Como lutar contra a desinformação que é compartilhada nas redes sociais e na internet?

SM: Eu acredito que é papel do jornalista combater a desinformação promovida através de “fake News” nas redes sociais, levando a informação correta às comunidades. Temos que perceber que a informação salva-vidas e, por isso temos que travar o que chamamos de “pandemia de desinformação”. O trabalho do jornalista é muito importante, pois eles são verificadores de fatos, assim garantem que a história seja credível.

JT: Em que projeto você está trabalhando no momento?

SM: Sou Diretor na ONG “Journalists for Human Rights”, é uma organização internacional que atua na ligação entre a defesa dos direitos humanos e o desenvolvimento de mídia fundada em 2002, no Canadá. Percorremos o mundo, principalmente onde é necessário, em zonas de conflito, com governos instáveis, treinando jornalistas para que saibam como defender e reportar as questões de direitos humanos. Neste momento, a ONG está presente em 29 países.

JT: Você já viajou o mundo inteiro, quais lugares recomendaria para as pessoas conhecerem?

SM: A África do sul é um lugar maravilhoso para visitar, a Cidade do Cabo e Durban são fantásticas, os Safari são lindos, Kenya é incrível para fazer Safari, Zanzibar é linda, as C ataratas de Vitória, no Zimbábue é deslumbrante, e com certeza o Rio de Janeiro é incrível. Todos esses lugares são fantásticos para conhecer.

JT: Como seria um mundo perfeito para você? E acredita na paz mundial?

SM: Acredito que há oportunidades para vivermos em uma sociedade mais democrática, inclusiva, com igualdade, uma sociedade onde todos são tratados de forma igual, independente da sua cor, da sua raça, e sua religião. Todos serem respeitados, é possível. Há 50 anos esse mundo que vivíamos, era apena um sonho para aqueles que estavam lutando pela liberdade que nós temos hoje. Acho que é totalmente possível, apenas precisamos dos nossos pressupostos e poderes coletivos, para nos mobilizar e lutar em todas as formas de injustiça, para que possamos de ter um sonho, e nossos filhos viver esses sonhos que nós temos, como estamos vivendo o sonho dosnossos ancestrais.

JT: Deixe um recado para os leitores do jornal?

SM: Eu empresto a minha cultura para você e você empresta a sua cultura para mim, assim vemos potencial nas nossas identidades. Desse jeito nós podemos juntar as nossas diversidades e nos tornarmos mais fortes, criativos, capazes de nos mover a favor de um desenvolvimento em comum. Também estou convidando vocês para prestigiarem e ler os jornais. Eu espero que vocês fiquem mais informados e continuem cotribuindo com Santa Catarina melhor.